Sobre a série Rostos
Rostos, por Nelson Brissac
Aqui Cássio toma filmes em vídeo – quaisquer, dos pornôs às histórias de ação (impossível pensar imagens mais descartáveis) –, e interrompe a fita ao encontrar um rosto. Ele então fotografa essas imagens suspensas, em polaroid. O resultado não poderia ser mais surpreendente.
Esses rostos aparecem dotados de uma luminosidade própria, interior, destacando-se do fundo espesso, quase líquido, fluorescente, que os envolve. Os retratos mostram esses rostos como nunca os veríamos, como não poderíamos jamais vê-los nos filmes dos quais foram retirados. Intimismo e serenidade, resgatados de imagens tão vulgarizadas. Esses rostos aparecem envoltos no mais inescrutável mistério, dotados de estranho esplendor. É como se o encanto da pintura de outros tempos tivesse ido se refugiar nesses filmes comuns, onde o fotógrafo o surpreendeu.
Nelson Brissac
Filósofo e organizador do projeto Arte/Cidade
Nelson Brissac