Sobre a série Panorâmicas
Panorâmicas por Nelson Brissac
A cidade não é um horizonte que se descortina aos nossos olhos. A arte contemporânea nasce do confronto com essa opacidade, em que o muro de concreto dos prédios se assemelha ao chão de pedra das calçadas e o fosco das superfícies refletoras impede qualquer transparência.
As imagens dessa série apresentam um curioso paradoxo: são visões panorâmicas praticamente desprovidas de profundidade. São recortes horizontais, estreitos, muitas vezes seccionando abruptamente os elementos da paisagem.
As coisas então se rearticulam numa composição de fragmentos, em primeiro plano.
A bifurcação no túnel converte-se assim num conjunto de planos e linhas que se entrecruzam e a estátua se aninha, como uma estampa, entre vultos verticais. A imagem panorâmica como tapeçaria.
Nelson Brissac
Filósofo e organizador do projeto Arte/Cidade