A Vida em Aerocidades
Se a mobilidade é um padrão irrefreável da vida contemporãnea e a condição universal do cidadão do mundo, aeroportos hoje equivalem a novas metrópoles
O aeroporto Chek Lap kok de Hong Kong recebe 50 milhões por ano segundo dados do instituto de pessoas por ano. Em Cingapura, o aeroporto de Changi tem anualmente mais de 40 milhões de passageiros. No Aeroporto de Cumbica, em São Paulo, transitam 30 milhões por ano. São magnitudes que equivalem a escalas metropolitanas. Interconectados, esses três aeroportos abrigam uma população de mais de 100 milhões de pessoas — em trânsito. Isso sem falar na população não “flutuante”.
Aeroportos abrigam um arsenal estável de funcionários que supera qualquer megassistema empresarial: Hong Kong, somado a Guarulhos, emprega 90 mil pessoas. Se a mobilidade é um padrão irrefreável da vida contemporânea, condição universal de qualquer cidadão do mundo, aeroportos são hoje espaços equivalentes a cidades, confirmando a tese do arquiteto Rem Koolhas de que estão a ponto de substituí-las (publicada em S, M, L, XL, em 1998).
Como as cidades, os aeroportos não param de inflar. Com o crescimento da economia no Brasil, a demanda no setor aéreo aumentou, em média, 10,2% ao ano no período de 2003 a 2010, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No biênio 2009-2010, a demanda subiu de 128 milhões de passageiros para 154 milhões. A projeção aponta um movimento de 225,9 milhões de passageiros em 2014. Isso significa que os maiores aeroportos do Brasil estão operando como os nossos presídios: acima de 100% da capacidade e no limite da eficiência operacional. A previsão é a continuidade do ritmo de crescimento da aviação na casa dos dois dígitos por ano. Com a Copa do Mundo e as Olimpíadas no horizonte, o setor pede altos investimentos, na tentativa de reverter duas décadas de estagnação e de reduzir o abismo que nos separa dos modelos de excelência construídos na Europa e nos EUA já nos anos 1970. Na lista dos notáveis: o Terminal TWA do JFK Airport, de Nova York.
Revista Select
edição 07, 2012